quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Desespero da Piedade

Meu senhor, tende piedade dos que andam de bonde
E sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos...
Mas tende piedade também dos que andam de automóvel
Quando enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos, na direção.

Tende piedade das pequenas famílias suburbanas
E em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos
Mas tende mais piedade ainda de dois elegantes que passam
E sem saber inventam a doutrina do pão e da guilhotina.

Tende muita piedade do mocinho franzino, três cruzes, poeta
Que só tem de seu as costeletas e a namorada pequenina
Mas tende mais piedade ainda do impávido forte colosso do esporte
E que se encaminha lutando, remando, nadando para a morte.

Tende imensa piedade dos músicos dos cafés e casas de chá
Que são virtuoses da própria tristeza e solidão
Mas tende piedade também dos que buscam silêncio
E súbito se abate sobre eles uma ária da Tosca.

Não esqueçais também em vossa piedade os pobres que enriqueceram
E para quem o suicídio ainda é a mais doce solução
Mas tende realmente piedade dos ricos que empobreceram
E tornam-se heróicos e à santa pobreza dão um ar de grandeza.

Tende infinita piedade dos vendedores de passarinhos
Que em suas alminhas claras deixam a lágrima e a incompreensão
E tende piedade também, menor embora, dos vendedores de balcão
Que amam as freguesas e saem de noite, quem sabe onde vão...

Tende piedade dos barbeiros em geral, e dos cabeleireiros
Que se efeminam por profissão mas que são humildes nas suas carícias Mas tende mais piedade ainda dos que cortam o cabelo:
Que espera, que angústia, que indigno, meu Deus!

Tende piedade dos sapateiros e caixeiros de sapataria
Que lembram madalenas arrependidas pedindo piedade pelos sapatos
Mas lembrai-vos também dos que se calçam de novo
Nada pior que um sapato apertado, Senhor Deus.

Tende piedade dos homens úteis como os dentistas
Que sofrem de utilidade e vivem para fazer sofrer
Mas tende mais piedade dos veterinários e práticos de farmácia
Que muito eles gostariam de ser médicos, Senhor.

Tende piedade dos homens públicos e em particular dos políticos
Pela sua fala fácil, olhar brilhante e segurança dos gestos de mão
Mas tende mais piedade ainda dos seus criados, próximos e parentes
Fazei, Senhor, com que deles não saiam políticos também.

E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tende píedade das mulheres Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres
Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres
Ulcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!

Tende piedade da moça feia que serve na vida
De casa, comida e roupa lavada da moça bonita
Mas tende mais piedade ainda da moça bonita
Que o homem molesta – que o homem não presta, não presta, meu Deus!

Tende piedade das moças pequenas das ruas transversais
Que de apoio na vida só têm Santa Janela da Consolação
E sonham exaltadas nos quartos humildes
Os olhos perdidos e o seio na mão.

Tende piedade da mulher no primeiro coito
Onde se cria a primeira alegria da Criação
E onde se consuma a tragédia dos anjos
E onde a morte encontra a vida em desintegração.

Tende piedade da mulher no instante do parto
Onde ela é como a água explodindo em convulsão
Onde ela é como a terra vomitando cólera
Onde ela é como a lua parindo desilusão.

Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas
Porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade
Mas tende piedade também das mulheres casadas
Que se sacrificam e se simplificam a troco de nada.

Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas
Que são desgraçadas e são exploradas e são infecundas
Mas que vendem barato muito instante de esquecimento
E em paga o homem mata com a navalha, com o fogo, com o veneno.

Tende piedade, Senhor, das primeiras namoradas
De corpo hermético e coração patético
Que saem à rua felizes mas que sempre entram desgraçada
Que se crêem vestidas mas que em verdade vivem nuas.

Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade.

Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras
Que são crianças e são trágicas e são belas
Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam
E que têm a única emoção da vida nelas.

Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse
Ter piedade de si mesma e de sua louca mocidade
E outra, à simples emoção do amor piedoso
Delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.

Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas
A vida fere mais fundo e mais fecundo
E o sexo está nelas, e o mundo está nelas
E a loucura reside nesse mundo.

Tende piedade, Senhor, das santas mulheres
Dos meninos velhos, dos homens humilhados – sede enfim
Piedoso com todos, que tudo merece piedade
E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim!


Vinicius de Moraes

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Nostalgia...

...Quando a luz do sol apagar
Quando o nosso céu escurecer
Vou cantar pra ficar tudo bem
Vou pedir pra você não me esquecer

E a luz das estrelas
Me dizendo pra me entregar
Eu não sei mais imaginar
Eu não sei dizer

Não dá pra suportar
Deixar você partir
Sem ter uma chance pra falar
Sei que não vou poder te sentir
Mas não vou esquecer teu olhar

O tempo vai passar, nós vamos viver
Mas sempre que pensar em mim vou pensar em você...


...Você tão calada e eu com medo de falar
Já não sei se é hora de partir ou de chegar
Onde eu passo agora não consigo te encontrar
Ou você já esteve aqui ou nunca vai estar

Tudo já passou, o trem passou, o barco vai
Isso é tão estranho que eu nem sei como explicar

Diga, meu amor, pois eu preciso escolher
Apagar as luzes, ficar perto de você
Ou aproveitar a solidão do amanhecer
Prá ver tudo aquilo que eu tenho que saber...

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Se joga!

Se joga..se joga.. no mundo...!!!!

Vamos... prepara-te!!!!

Ahhh... vai ter que aprender é na marra!

Vôa... Vôa...

Pela primeira vez sentiu a leve brisa no rosto...
Houve por um instante, um silêncio absoluto,
Percebia tudo acontecer rapidamente ao seu redor,
as imagens das folhas caindo, caiam em câmera lenta,
Não entendia porque sua velocidade aumentava a cada segundo,
Os troncos das árvores ficavam cada vez mais grossos,
A luz que irrompia as árvores e suas densas folhagens,
já não era vista, claramente,
Uma obscuridade o consumira naquele curto período de tempo,
Acovardado, amedrontado,
Não sabia o que fazer...
Fechou seus olhos, esvaziou seus pensamentos...
Tomado pelo instinto,
Agora olhos arregalados, atentos, surpresos, mas também, angustiados.
Aprumou o peito...
Foram frustrantes, pequenas tentativas de algo parecido como um bater de asas...
Ainda caindo...
Assustado.
Valente, persistente... abriu suas asas.
Enfim, planou com elas, pequeninas e frágeis asas...
Um rasante no ar... executado com propriedade.
Tomado pelo exctasy em seu espírito, aproveitou aquele sublime momento,
Tornou a bater suas asas... agora com mais confiança e convicto no que pudera ele fazer!
A surpresa iminente... estampada na alegria de seus movimentos...
Voara!
Pequenino, indefeso, sem escolha, atirado, ao desconhecido...
Voara...
Irradiante!
Dali em diante...
Tomado pelo desejo de emoções que sentira outrora,
Sentira o valor da liberdade!
E sua inconstante e intensa busca por novos céus... Voou...
Voou tanto...
Tanto...
E desde aquele sublime dia não fora mais visto.
Por ninguém...
Ninguém mesmo...
Não naquele pedacinho de céu!

Diego Diniz

Forgive me...

Forgive me lover
For I have sinned
For I have done you wrong

For I have hurt
Beyond repair
When tears occurred
No I didn't care

Forgive me lover
For I have sinned
For I have loved you wrong

But this estranged organ in my chest
Still beats for you
It will not rest, so
Meet me in our secret place
When the time has come

And rest your head
In my lap
And I'll lead you out of your own trap
And I'll show you how much
You have missed through the
Time we weren't right

So forgive me lover
For I have sinned
For I have let you go

But you've been every now and then on my mind yeah
Every now and then on my mind yeah
On my mind

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Segunda 13

Espero que essa Baixastralização da semana termine agora, pois hoje, é o meu primeiro dia da semana e quero vivê-lo da melhor maneira possível, emanando o máximo de energia positiva para o seu término e um final de semana mais maravilhoso ainda do que este que passei!

ALTOASTRALIZANDO a semana...

Faça o mesmo!

domingo, 12 de dezembro de 2010

Nossos inimigos dizem:
"a luta terminou".
Mas nós dizemos:
"ela começou".
Nossos inimigos dizem:
"a verdade está liquidada".
Mas nós dizemos:
"nós ainda a conhecemos".
Nossos inimigos dizem:
"mesmo que ainda se conheça a verdade, ela não pode mais ser divulgada".
Mas nós a divulgamos.


Toda via prossigamos!
Seja de que maneira for!
Saiamos a campo para a luta, lutemos, então!
Não vimos já como a crença removeu montanhas?
Não basta então termos descoberto que alguma coisa está sendo ocultada?
Essa cortina que nos oculta isto e aquilo, é preciso arrancá-la!


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

João Cabral de Melo Neto

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.


quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Coleção de frases

"É muito simples: só se vê bem com o coração. O Essencial é invisível para os olhos."

"Os homens do teu planeta, cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim... e não encontram o que procuram..."

"E no entanto o que eles buscam poderia ser achado numa só rosa, ou num pouquinho d´água..."

"Mas os olhos são cegos. É preciso buscar com o coração..."

"Eu havia bebido. Respirava facilmente. A areia é a cor de mel quando amanhece. E a cor de mel me fazia feliz.

"Porque haveria eu de estar triste? ..."

...

don´t worry, be happy!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Alquimia

Isto não são horas de aparecer
Chorando, batendo na porta sem parar
Já passa das três
Procure algum santo pra te proteger
Aqui tu não tens mais lugar
Se queres saber
Novo tempo chegou regendo meu coração
Retumbando o tambor da minha revolução
Bem que eu quis te lembrar, amor
Mas fingias não me escutar
Onde estavas, meu bem?
Quando meu canto calou
Naquele pranto sem paz
Transbordando e a dor
Incrustada na pedra
Saiu pela boca do meu olhar
Alagando o chão, inundando o sertão
Mas na ilha que me abrigou
A baía me deu um cais
Pra correr o mar
Vida a me levar
Me embalar pra onde for
Outros gestos de amor
Pra bem longe do teu sabor
O teu corpo é no meu cobertor
Agora não é mais
Não aquece meus ais
Teu olhar se cristalizou
Incrustado na pedra ele jaz
Junto ao teu calor
Junto àquela flor
Que um dia o amor regou
No jardim dos tempos atrás
Então vai em paz
Leva os teus sinais
E não olhe pra trás
Vai em paz
Vai que esse canto é quebranto
Alquimia de compositor
Pra desatar
Teu corpo do meu cobertor


"Mas os olhos são cegos. É preciso buscar com o coração..."

Entretanto, a esperança é o que nos dá força para continuar...

"O que torna belo o deserto, é que ele esconde um poço nalgum lugar."



terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Filosofando...

não me peça pra ficar
só porque você não quer me acompanhar
não me fale em dor
antes das noites de frio sob o cobertor

não, não vou negar
você me deu tudo, eu te dei ar, de dou ardor
não me cale, amor
que a vida da gente é uma eterna canção por compor

pode parecer cruel , mas vou
eu não te desejo mal, mas vou
me agarrando, céu em céu, pra outra real
posso até estar pinel, mas vou
é porque desejo mais que eu vou
te mando no aniversário um cartão postal

vem, me tire pra dançar
essa dança não é fácil de se acompanhar
que não falte amor
no tempo e no espaço, a gente ainda pode criar
deixa a vida te levar
que as luzes se acendam e que a gente possa brilhar
mas cuidado, amor
que as mãos que estendem tapetes não possam puxar.

Música que hoje está na cabeça....

"Minh´alma transcende o visível e o tactil
Transporta-se por barreiras
E paredes físicas intransponíveis...
E, por alguns instantes,
Nossos olhares se cruzam
E esta, retorna rapidamente à mim
Me deixando paralisado
Assim,
Sem graça...
De tudo.

Deve ser por isso."

"As flores vão nascer de amores
Vãos, viver
E ninguém vai poder mais amputar sua raiz
O galho que crescer
Os ventos vão reger
E quem sabe dançar a sinfonia os homens gris

Há margaridas bêbadas sobre os balcões
Damas-da-noite no calor de explosões

As flores vão nascer
Do querer, sem querer
Lá no sertão, no Paquistão, no coração mais infeliz
E por que não dizer
No vaso, no prazer
Lá no quintal, no Pantanal, no Rio e em Paris

Delírios sob a lava dos vulcões
Amorosas no entulho das construções

Porque nada impede
Uma flor de nascer
De um desejo sincero

Porque nada impede
Uma flor de querer
O que eu quero"

"Sós, sonhos, sons..."

"A todos os seres que necessitam de TEMPO,
Um dia aquele, que fora o Sr. do Tempo, pede hoje, para que o toque de seus dedos no barro da vida acelere e modele rapidamente o instante, e que, seja BREVE. Tão breve e finito tais os melhores momentos de nossa vida."

"O dedo invisível do tempo
Modelando nosso destino
No barro da vida é um velho
Girando, virando menino
Sonhando sons, criando asas
E as asas pisando o céu
Entrando e saindo das casas
Brincando qual pipa de papel
Driblando dragões e cometas
E contando histórias pra lua
Brincando de roda com os planetas
Bem ali, na porta da rua
E a tarde fugindo sem pressa
Na velha cidade da luz
Presente no sol que atravessa
Futura na estrela que conduz
O dedo invisível do tempo..."






sábado, 4 de dezembro de 2010

Poema da Batalha

Sabe quando aperta-te o peito
angustiado permanece preso?
tente respirar com todo esse peso
Sufoca a alma e o orgulho
Pensa que quero ferir-te
machuco a ti e a mim.

equivocos sao como pedras
atingem a cabeça que se poe a ressoar
Vibraçao que arde, corta o coraçao.
retalhos de sentimentos largados pelo chao
colho-me, varro-me

Aspire meus erros e os jogue fora
limpe os vestigios lustre os absurdos
com esforço, talvez se tornem glorias

procuro a fronteira que me separa da exatidao
Sou imigrante, nao tenho permissao
choco-me com a guarda violentamente
Mas sou fraca, perco a batalha sangrenta
tanto sofrimento asteio a bandeira da paz.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Repousar


Momento de recuar
Não é ser covarde
Porque até para afastar
É preciso coragem
Aguentar a pressão
Que sua falta faz
E parar de pensar
Em voltar atrás

Retrair para refletir
Recolher-se
E se reconstruir
Tomar fôlego
Ou impulso para seguir

Seja qual for o motivo
Recuar é paz aos ouvidos
Reposição de energia
Pausa e precisa calmaria
De repousar
Num eterno continuar

Créditos: